sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

[REVIEW]Trigun

  Trigun Maximum é um mangá criado por Yasuhiro Nightow, a série passou por diversas dificuldades durante o seu período de publicação e curiosamente mudou até de demográfico (a série começou a ser publicada em uma antologia shonen e foi transferida para uma antologia seinen durante a publicação).

  Yasuhiro Nightow é um fã confesso dos quadrinhos e da cultura estadunidense, só de olhar para o visual do mangá dá para se notar a grande influência dos filmes de faroeste. Apesar de ser um mangá sobre pistoleiros a verdadeira mensagem por trás desse título é de paz e amor, o personagem principal, Vash, apesar de causar destruição pelos lugares onde passa nunca deixa de pregar o diálogo e valores como paz e amor (inclusive ele sempre faz aquele sinalzinho cafona dos hippies ¬¬).

  A série primeiramente foi publicada na antologia Shounen Captain da Tokuma Shoten, o título foi publicado durante três anos nessa antologia e os coletados em três volumes tankoubon, entretanto a revista foi cancelada e o mangá "cancelado", só que logo Nightow foi contratado por outra editora, a Shounen Gahousha, através de negociações o mangaká pode continuar com o seu mangá, mas para isso ele precisou mudar o título para Trigun Maximum. Apesar dos títulos diferentes (mera questão jurídica) é o mesmo mangá e as diferenças são mínimas, o traço do autor mudou e o mangá ganhou um tom mais sombrio, talvez isso se deva ao fato do mangá ter sido continuado na Young King Ours que é uma antologia Seinen. Posteriormente a Shounen Gahousha adquiriu os direitos da série Trigun e relançou os três primeiros volumes da série em uma edição especial de dois volumes.

  Ao todo a série foi publicada de 1995 até 1007, o mangá foi lançado em muitos países, pela Dark Horse nos Estados Unidos, pela Carlsen Comics na Alemanha, Editions Tonkam na França entre vários outros.

  Aqui no Brasil a publicação de Trigun deu muita complicação, primeiro a Panini lançou a série Trigun em formato normal, mas a Shounen Gahousha reclamou e o mangá foi recolhido e re-lançado no formato devido (os famosos "tijolões), quem comprou a série no "formato errado" teve direito de trocar pelos então chamados tijolões, o recall durou quase um ano e mesmo assim muita gente perdeu o prazo pra trocar o mangá. Mas a novela não parou por aí, a Panini levou bastante tempo entre a publicação dos mangás, por exemplo, conferindo meus tijolões da série Trigun vi que o primeiro volume foi lançado em Julho de 2007, já o primeiro volume de Trigun Maximum foi lançado em Agosto de 2008. Durante esse intervalo de lançamentos muita gente achou que a editora japonesa tinha se aborrecido com a lambança feita pela Panini e não teriamos a série Trigun Maximum lançada, mas ela veio, demorou, mas foi lançada. O mangá Trigun Maximum foi lançado "normalmente" todos os meses até o volume 4 em novembro de 2008, depois disso o volume 5 só foi aparecer em nossas bancas em fevereiro de 2009, muita gente achou que a série tinha sido cancelada, e com razão (cof, cof, Seton e Dama de Pharis, cof, cof), o lançamento do volume 6 só aconteceu em Setembro de 2009, seis meses depois, muitos boatos sobre a demora no lançamento correu nas redes sociais, mas a verdade é que a Panini concluiu o lançamento do título, a duras penas, mas concluiu. A Panini chegou até a subir o preço do mangá a partir do volume 10, o mangá que custava R$9,90 passou a custar R$11,90, isso provavelmente pela quantidade de páginas dos encadernados aumentar muito nos volumes finais (a partir do volume 10 a maioria dos volumes de Trigun Maximum têm 240 páginas, o 13 tem 280 páginas e o 14 cerca de 270). Para surpresa geral a Panini colocou páginas coloridas na cena final da série.

  Além do mangá, o anime foi exibido na televisão brasileira pelo canal por assinatura Cartoon Network (em um horário péssimo durante a madrugada) e pelo braço da Bandeirantes, PlayTV no bloco Otacraze (a PlayTV chegou até a sair do ar por uns tempos, essa série realmente tem uma urucubaca...).
  Voltando ao mangá, ele conta a história do pistoleiro pacifista Vash The Stampede (conhecido aqui como Vash, o Estouro da Boiada) e seu conflito com o seu irmão gêmeo, Million Knives. A história se passa no futuro, a humanidade está colonizando o espaço e manda naves com colonos para encontrar planetas habitáveis por seres humanos, a tecnologia já se desenvolveu muito e para gerar energia eles usam híbridos chamados de "usinas", esses híbridos têm uma aparência humanóide, mas não têm uma consciência, noção de "eu" propriamente dito, eles foram criados apenas para gerar energia. Só que algo estranho acontece e uma dessas usinas, ou plantas como também são chamadas, dá a luz a dois meninos gêmeos durante a viagem. A única pessoa acordada se chama Rem Saverem e ela cria esses dois meninos como se fossem seus filhos, essas crianças diferente das outras crescem muito rápido e em cerca de seis meses eles já estão tão desenvolvidos quanto crianças entre seis ou oito anos. Em um dado momento esses meninos descobrem que eles não foram as únicas crianças a nascerem de plantas, uma menina já tinha nascido antes e ao invés de ter sido criada como eles foram criados, ela foi usada como cobaia pelos cientistas da nave (que estão hibernando nesse ponto da história) até a morte, eles ficam chocados com esses arquivos, Vash se revolta, já Knives finge que não viu nada. Depois de algum tempo quando a situação já parecia normalizada Knives tenta destruir a humanidade, ele havia percebido que não há como humanos e Plantas conviverem pacificamente, para ele a solução era exterminar os seres inferiores, os humanos. Com a sabotagem de Knives sobra apenas uma nave da frota e é essa nave que irá fazer um pouso forçado no planeta desértico onde essa colônia humana será obrigada a se estabelecer provisoriamente. Para salvar a nave Rem sacrifica sua própria vida e com isso Vash herda os seus ideais pacifistas, que muitas vezes poderão soar hipócritas, falsos, mas que é a única forma que a humanidade poderá sobreviver em um mundo tão hostil.

  A história toda se passa em um clima de velho oeste, todo mundo luta com armas, os ideais do protagonistas são colocadcos em cheque o tempo todo, por mais ridículo e babaca que o Vash possa ser ele tenta sobreviver sem matar ninguém, seja lá qual for a atrocidade cometida pela pessoa com quem ele precisa lutar. O mangá é recheado dessas situações, uma hora o Vash falando com Wolfwood (o Padre) diz que ele desiste fácil demais, que sempre há uma solução, que matar não é a solução, nisso Wolfwood responde que nem todos são como o Vash, que as pessoas que não são sobre-humanas precisam matar se quiserem sobreviver. O mangá é reflexivo em quase todos os momentos, mas ainda assim não cai na pieguice, não é só um discurso vazio, apesar de ser um mangá de ficção científica, ele nos leva a refletir sobre nós mesmos sem nunca se tornar demagogo. Vash e Wolfwood são dois lados diferentes da mesma moeda. Se um simboliza os ideais de paz o outro simboliza a realidade.

  O mangá é recheado de cenas de ação de tirar o fôlego, os vilões da Gung Ho Gun têm habilidades incríveis e é uma pena que nem todos tenham tido a oportunidade de aparecer na animação, é realmente triste isso. Muitos duelos sensacionais e personagens soberbos ficaram de fora do conhecimento do grande público.

  Como esse é um review da série eu deveria poder dar spoilers tranquilamente, mas minha consciência fica pesada mesmo assim, em um dos momentos finais da série quando Knives já se fundiu com quase todas as Plantas do planeta para poder usar seus poderes e as chances da humanidade do planeta sobreviver são quase zero a única coisa que pôde salvar as pessoas foi o diálogo entre Seres Humanos e Plantas. Querendo ou não essas duas espécies tão distintas dividem o mesmo planeta e os seres humanos precisavam do poder das plantas para sobreviver, foi com o diálogo que a situação foi resolvida, só com a cooperação as duas espécies puderam voltar a prosperar. Isso é uma das várias mensagens espalhadas na trama que pode ser lida em várias camadas e aplicada nos dias de hoje, hoje em dia as pessoas se toleram muito pouco e é necessário diálogo, nós dividimos o planeta e mesmo assim não paramos de entrar em conflito, seja com nossos vizinhos, seja com pessoas de outras religiões ou com outros países. O autor não erra quando diz que a única esperança para a humanidade é a diálogo. Só o diálogo e cooperação entre os vários países do nosso mun do será capaz de nos assegurar um futuro, só a harmônia do homem com a natureza pode nos trazer um amanhã.
  Além das leituras já abordadas podemos também pensar nas Plantas como a natureza, o homem depende da natureza, mas ele só a destrói e a usa sem pensar em manejamento sustentável, em um equilíbrio. Não é a toa que vemos tantos desastres naturais (aliás, acabou de acontecer um em nosso País), a maioria deles é fruto da exploração impensada do homem que escraviza a natureza ao seu bel prazer.

  É claro que nem tudo são flores, apesar de tantas mensagens interessantes, conflitos épicos a leitura do mangá pode ser um saco. O motivo é que o autor é um P-O-R-C-O!! As páginas são escuras, entupídas de retículas, as cenas que são cheias de ângulos interessantes são confusas, muito confusas, um quadro vemos dois pistoleiros frente a frente, no quadro seguinte há um pé significando que alguém saltou,mas até você leitor compreender isso... O autor é tão desleixado e bagunçado que torna uma tarefa muito cansativa entender o que se passa nas cenas, em alguns quadros é até melhor desistir e passar para a próxima cena por causa da bagunça do autor. Se eu fosse definir com apenas umna palavra o traço do autor seria BAGUNÇA!! O autor tem tantas ideias em mente que quando ele forma os quadros as cenas de ação se tornam uma confusão, há informação demais, tudo isso atulhado nos quadros torna a leitura do leitor cansativa. Eu por exemplo abandonei a leitura do mangá no quarto volume de Trigun Maximum e por pouco não passei o mangá adiante sem terminar de ler. Por sorte fui perseverante e me obriguei a ler o resto do mangá, não me arrependi. Posso dizer também que o Yasuhiro Nightow evoluiu muito como mangaká durante a produção do mangá, as cenas entulhadas de informação vão diminuindo e no final do mangá já está tudo muito mais fácil de se compreender e mais organizado. É claro que as vezes ele dá umas derrapadas feias (alguém me explica os momentos finais da última luta entre o Vash e o Legato? Brinks) mesmo no final, mas mesmo assim ele melhora sensivelmente o estilo.

  Uma coisa muito legal no mangá é que há a capa que é séria e a folha de rosto onde o autor se parodia e faz uma versão zoada da capa, tem muita zoação nesse mangá. O próprio Vash é um bobão, mas é o tipo legal de bobão, se o mangá pode parecer muito solto e faltando coesão em alguns momentos, os personagens compensam isso, eles são sempre muito interessantes e cativantes. Os vilões principalmente costumam ser sensacionais, as técnicas de luta, suas motivações, os momentos de Space Opera também são um dos destaques do mangá.
  A tradução/adaptação do mangá está muito bacana, a Panini falhou com o consumidor mesmo foi nos pontos que eu já citei, Trigun foi o mangá de publicação mais irregular que já vi, com idas e voltas e pouquíssima informação divulgada na época. A edição está muito boa (o que é um milagre com a confusão que o autor fazia nas páginas...) e o acabamento está bom, não soltou nenhuma página até hoje (o único problema é o amarelamento natural das páginas. É uma coleção que dá gosto de ver completa, foi preciso muita perseverança pra continuar a comprar mesmo sem ler e com todos aqueles atrasos, hoje em dia sou feliz de ter esse mangá na minha coleção.

  Não recomendo esse mangá se você está procurando algo simples e fácil de se ler, é preciso ter saco e disciplina pra aguentar as recapitulações do momento de troca de editora, também é preciso ter muita disposição pra ler e passar minutos tentando entender algumas sequências de ação particularmente mais confusas. Mas se você tem paciência de sobra, gosta de duelos de pistola, vilões surreais, uma trama enxuta e bem amarrada e não se importa com "traço feio" vá adiante, Trigun é um dos melhores mangás já publicados nesse País.

Título: Trigun/Trigun Maximum
Autor: Yasuhiro Nightow
Demográfico: Shonen/Seinen
Gênero: Ação/Ficção Científica/Faroeste/Comédia
Formato:13 x 18cm, Quantidade de Páginas extremamente variável de um volume para outro.
Duração: 2 Tijolões e 14 Tankoubons
Preço: R$18,90 Trigun. R$9,90 Trigun Maximum até o volume 9 e R$ 11,90 do volume 10 em diante.
Periodicidade: Concluído (costumava sem muito incerta). 

3 comentários:

LINK#6065 disse...

COnfesso que me decepcionei um pouco com Trigun Maximum. Eu pensei que teriamos uma série mais consiza e madura, entretanto, o que vi foi uma série robusta e obscura (demais até).

Em muitos momentos não conseguia entender o desenho e a cena. A história fica bem perdida no começo(dos volumes 3~6)e eu agradeci por NÃO comprar a série.

Gosto muito de Trigun (anime e primeira leva do mangá) e de toda a trama e temáticas envolvidas mas, sinceramente não recomendo como mangá a se comprar a menos que, vc queira algo...diferente...

Kuroi disse...

É isso, Link, o traço é confuso e o pior de tudo é que o mangá começa a melhorar quando começam a contar o passado do Vash (essa parte que você largou o mangá). A partir do momento em que revalam o passado do Vash e do Knives o nível só sobe, mas como você mesmo disse é preciso estar aberto a coisas diferentes e ter estômago pra engolir a arte do autor.

LINK#6065 disse...

Mas eu terminei de ler a série!! Eu vi o final e até gostei dele.

Como você mesmo comentou no post, tem toda uma metáfora entre as plantas e os seres humanos e o modo como todos se relacionam.

A parte da história do Wolfwodd também é bem impolgante!!

Mas enfim...é Bom e Não é XD